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Levante Mulheres Vivas: Baianas vão às ruas neste domingo em luta nacional contra o feminicídio

  • Foto do escritor: Vandinho
    Vandinho
  • há 10 horas
  • 5 min de leitura
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Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil


O Mapa Segurança Pública de 2025, divulgado em junho deste ano, aponta que cerca de quatro mulheres são assassinadas por dia no Brasil, o equivalente a uma morte a cada 8 horas.


É neste contexto, com mais de 1.400 mulheres mortas por feminicídio no Brasil em 2024, que o Levante Mulheres Vivas vem organizando protestos contra a violência de gênero em todo o Brasil. Após uma série de protestos no dia 7 de dezembro, a mobilização busca levar as mulheres baianas às ruas no dia 14 de dezembro, este domingo. 

 

Por meio de publicações nas redes sociais, o grupo responsável pela mobilização, o Levante das Mulheres Vivas na Bahia, mostra os rostos de mulheres comuns, em suas mais diversas áreas de atuação, que se chamam outras colegas, amigas e familiares para o protesto que deve ser iniciado às 10h a partir do Cristo da Barra em direção ao Farol, ponto turístico da capital baiana. 

 

O Bahia Notícias conversou com Sandra Munõz, uma belo-horizontina que vive na Bahia há mais de 37 anos, e adotou a defesa das mulheres e pessoas LGBTQIAPN+ como sua luta pessoal. Líder estadual do Levante e participante organizadora de outras manifestações nacionais, ela destaca a importância deste momento. 

 

“O que impacta mesmo agora é isso. As mulheres estão cansadas, elas não aguentam mais ver morte, não aguentam ver mais assassinatos. Então, eu acho que quando as mulheres vão para rua, é nesse sentido”, afirma. Para ela, o momento da mobilização também é importante: “É para a gente falar: ‘Ó, nós estamos aqui no processo do Natal, que em vez de a gente estar cuidando, né, das nossas vidas, tirando férias, cuidando da nossa família para o Natal, eu estou no meio da rua pedindo que eu viva até o final do ano, como as outras companheiras não conseguiam viver’”, destaca.

 

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A esquerda, de chapéu vermelho, Sandra Munhõz | Foto: Arquivo pessoal

 

Ela considera que, apesar da crescente campanha nacional de conscientização sobre o tema, as políticas públicas são insuficientes. Como gestora de uma casa de acolhimento a mulheres e pessoas LGBTQIAPN+ em Salvador, a Casa de Acolhimento Marielle Franco Brasil, aberta oficialmente em 2023, Sandra narra uma dessas experiências que se tornaram comuns em sua rotina. 

 

“Uma menina estava na Casa da Mulher Brasileira chorando e uma amiga me ligou e falou: ‘Sandra, eu tenho uma amiga minha que ela não tem para onde ir, com quatro crianças’. Na hora, eu pensei: ‘Como assim, quatro crianças não tem para onde ir? A Casa da Mulher Brasileira não é o lugar que indica para ir à casa de acolhimento?’. E ela responde que o marido dela estava na casa dela e ela não tinha medida protetiva. O pessoal ligou para a polícia ir lá tirar ele, e quando chegou, o policial disse que não poderia tirar ele da casa sem a medida protetiva”, relata. “Na delegacia, o delegado pergunta se o marido bateu nela e ela respondeu: ‘Não, hoje não, mas ele tá sempre me batendo’ e ele fala: ‘Ah, mas você não tem marca". Então assim, então as mulheres estão cansadas disso”, conclui. 

 

Apesar de lidar cotidianamente com histórias como essa, Sandra revela ainda que sua relação com a violência começou muitos anos antes. Quando, ainda criança, a violência de gênero atravessou a sua vida e a de sua mãe. “A minha militância começa com 13 anos de idade. Eu era jogadora de futebol em Belo Horizonte, fazia Senai em mecânica e um dia eu cheguei em casa do futebol, meu pai estava batendo nela", relata. 

 

"Eu peguei a mão dele e falei: ‘Nunca mais você bate nela e eu vou te meter porrada’. Claro que ele me bateu, mesmo eu batendo nele, porque ele era mais forte, mas eu falei com a minha mãe: ‘Vamos sair dessa casa, vamos sair dessa vida’. Ela disse: ‘Olha, para mim não tem mais jeito. Eu apanho do seu pai já tem 20 anos e é a primeira vez que eu que ele me bate na sua frente, [é a primeira vez que] você chegou e ele não parou’”, completa. 

 

A ativista conta que esse momento funcionou como uma virada em sua vida. E a influência de sua mãe a tornou “um monstro” contra o patriarcado e em defesa das mulheres: “Ela disse: ‘Mas eu quero que você vire um monstro para salvar as mulheres, que como eu não fui, você consiga ser liberta, salva, eu quero você salva e não quero que você coma reggae de ninguém, eu quero que você seja determinada a salvar as mulheres’”, completa Sandra. 

 

E com esse impulso ela conta que acabou se engajando nacional e internacionalmente movimentos feministas, principalmente contra a violência de gênero. Pedagoga, Sandra Munõz já chegou a comandar a Marcha das Vadias, no Brasil, e a Marcha las Putas, em outros países da América Latina, ambas em protesto pelos direitos das mulheres e liberdade sexual feminina. É essa experiência que ela quer usar neste domingo: 

 

“Na verdade, quando as mulheres me chamam, né, para estar na frente nacionalmente, é porque elas já sabem [dessas experiências]. Então, eu já tenho uma experiência de estar fazendo essa movimentação. Eu estou desde o começo, porque o movimento ele não começa agora”, conta. “Assim, quem tava pegando pesado mesmo é a Casa Marielle Franco e nós começamos a chamar as outras mulheres e de outros movimentos e falar: ‘Olha, é o seguinte, nós vamos fazer sozinhas. Se vocês não quiserem, nós vamos para a rua mesmo assim”.

 

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Grupo organizador do Levante Mulheres Vivas em Salvador | Foto: Reprodução / Arquivo pessoal.

 

Sobre as expectativas para a realização da manifestação no domingo, Sandra destaca que o posicionamento segue o mesmo. “Eu não quero saber de quantidade. Eu não quero colocar 1.000 mulheres na rua. Eu quero colocar três que têm consciência do que a gente tá fazendo, entendeu?”, destaca. 

 

Ela explica que é difícil mensurar o impacto de manifestações pelo tamanho, especialmente considerando temas mais sensíveis. Por isso, ela diz que “então, eu não estou preocupada de colocar 5 milhões na rua, colocar 9 milhões”. “Que legal se a gente colocar, mas isso para mim não é importante. Eu quero que a mulher entenda que ela tá lá na rua, porque a irmã dela, a vizinha dela ou ela pode ser a próxima [vítima]”, completa. 

 

Apesar disso, o que se viu nas ruas no último domingo (7) foram milhares de mulheres nas ruas do Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG). Na capital paulista, o ato reuniu 9,2 mil pessoas, segundo levantamento do Monitor do Debate Político do Cebrap em parceria com a USP.

 

É pensando nisso que as baianas - de nascimento e de coração - vão iniciar a concentração do Levante às 9h da manhã, no Cristo da Barra, para ecoar as vozes de milhares de mulheres em defesa de suas vidas.  BN

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