‘O crime organizado cresce porque, em alguns estados, parte da polícia é conivente’, diz Lula
- Vandinho

- 3 de jul.
- 2 min de leitura

Foto - Reprodução / TV Bahia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avaliou nesta quarta-feira (2) a abordagem das polícias no enfrentamento ao crime organizado. Ele enfatizou a necessidade de uma ação integrada e coordenada entre os governos estaduais e o federal. Com um discurso crítico, o presidente admitiu a desconfiança de uma parcela da população em relação às instituições de segurança.
“Veja, a polícia deve ser uma espécie de guardiã da sociedade. Quando a sociedade vê um policial, tem que enxergar alguém que vai ajudar, que está ali para fazer alguma coisa. Mas, em algum momento no Brasil, o policial passou a ser visto como um adversário de quem está recorrendo à polícia. Então, a saída é buscar uma fórmula, que não é mágica, mas sim civilizatória. É preciso entendimento entre o governo do estado e o governo federal para definir onde cada um atua”, afirmou em entrevista à TV Bahia.
A declaração foi dada em resposta a uma indagação sobre o crescimento das facções criminosas e os efeitos da violência em regiões como a Bahia. O presidente reconheceu que o sistema atual de segurança pública encontra-se esgotado e propôs uma reestruturação das funções de cada nível de governo no combate ao crime.
“Durante muito tempo, houve no Brasil uma discussão que não levou a nada: quem é que manda na polícia? Quem cuida da segurança? Se você for olhar a Constituição, a segurança pública é de responsabilidade dos governadores, que comandam a Polícia Militar e a Polícia Civil. O governo federal tem a Polícia Federal e as Forças Armadas, que não entram nessa história”, explicou.
De acordo com o chefe do Executivo, o governo nacional já se encontrou em três ocasiões com os governadores para debater uma Emenda à Constituição (PEC) que reconfigura a função da União nesse setor.
“O que nós queremos construir é uma parceria civilizada entre o governo estadual e o governo federal, para saber qual é o papel de cada um. Onde o governo federal entra? É só para dar dinheiro ou também participa das decisões políticas no combate à criminalidade?”, questionou.
Durante a entrevista, Lula mencionou um diálogo entre o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, a respeito da restrição de recursos destinados ao combate ao crime organizado.
“Eu vi uma discussão do ministro Rui Costa com o ministro Lewandowski. O ministro Lewandowski dizia ao Rui que havia dois bilhões de reais no Fundo Nacional de Segurança Pública. O Rui respondeu: ‘Mas isso é brincadeira, ministro. Só na Bahia eu gasto oito bilhões’. Então, dois bilhões para o Brasil inteiro não dá. E é verdade”, relatou o presidente.
Lula finalizou ressaltando que a luta contra a criminalidade demanda comprometimento, competência e estratégia.
“O crime organizado é uma indústria multinacional. Tem braço no Poder Judiciário, no Poder Político, no futebol… Tem braço em tudo quanto é lugar. Inclusive internacional. Então, para enfrentar o crime organizado, é preciso agir com profissionalismo e investir com muita inteligência. Esse é um mal que atinge o mundo inteiro. E, no Brasil, ele cresce porque, em alguns estados, parte da polícia é conivente com isso”.
Adelia Felix/Bnews








Comentários